O médico Felipe de Moraes afirmou que tinha medo da forma grosseira de agir do coordenador afastado do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Ferraz de Vasconcelos, Jorge Luiz Cury. Ele depôs a Comissão Especial de Inquérito (CEI) da Câmara Municipal que apura o escândalo dos dedos de silicone nesta quinta-feira, dia 11. O médico trabalhou no Samu desde a sua implantação, em 2009.
Além disso, o médico disse que colegas de trabalho também passavam por problemas relacionados ao comportamento agressivo e ameaçador de Jorge Cury. Rodrigo de Moraes acrescentou ainda que a situação agravou-se, sobretudo, quando precisou fazer residência médica em anestesia, no final de 2011. Na época, por não ter como conciliar o seu plantão com curso de especialização, reiterou por diversas vezes o pedido de demissão, mas, Jorge Cury nunca aceitara e prometera arranjar uma solução.
Com isso, no início do ano passado, o então coordenador propôs a confecção do dedo de silicone com o intuito de marcar o ponto biométrico para justificar a presença de Felipe de Moraes, contudo, o próprio Jorge Cury se autoescalava para tirar os plantões. A partir daí, o chefe do Samu passou a computar em média dois plantões mensais, além de horas extras, que, depois o seu subordinado direto era obrigado a transferir por via eletrônica ou parte em dinheiro a Jorge Cury.
Felipe de Moraes garantiu que questionava o coordenador pelo esquema e, na hora, aumentava ainda mais a ira dele. “O Dr. Jorge Cury é um homem muito influente e no Samu se comportava sempre de forma descortês com todos”, disse. Em razão da pressão e, ao mesmo tempo, por não ter tempo disponível, em outubro de 2012, deixou de comparecer aos plantões até a data do seu afastado após o estouro do escândalo, em março último. No período, ele acusa Jorge Cury de assinar a sua presença no trabalho com o dedo de silicone e exigir por telefone o repasse mensal de tudo.
No depoimento, Felipe de Moraes revelou que somente em fevereiro deste ano, transferiu R$11 mil, incluindo salário e férias ao coordenador. A suposta extorsão atingiu ao ponto de mesmo fazendo o seu plantão regular chegou a ficar com apenas R$200,00, de um total de R$1,2 mil. Além disso, durante todo esse tempo, também arcou com o Imposto de Renda (IR) retido na fonte. “Na verdade, só tive prejuízo por me sujeitar ao Dr. Jorge Cury, além de agora manchar a minha imagem pessoal e profissional”, desabafa Felipe de Moraes.
Filha
Nesta sexta-feira, dia 12, às 9h, a Comissão ouve a médica e filha de Jorge Cury, Aline Monteiro. Já, às 11h, estava marcada a oitiva do médico Rodrigo de Moraes, irmão de Felipe, mas, por compromisso profissional o mesmo não poderá comparecer. Por isso, a CEI do Samu quer colher o seu depoimento em nova data. Ele foi o único a enfrentar o Dr. Jorge Cury e não ingressou no esquema. Resultado: foi transferido para um posto de saúde e, em março de 2012, pediu exoneração.